Zeca era um menino comportado, medroso, porém bem sociável. Andava pelas ruas e todos o conheciam, era admirado por muitos e também odiado. Era odiado por ser muito legal, e as pessoas tinham inveja. Mas mal sabiam eles o que Zeca pensava. Ele não forçava pra ser daquele jeito, ele era daquele jeito, simples assim. Se todos soubessem como era a mente de Zeca, ninguém chegaria perto dele, pois seus pensamentos e experiências eram obscuros, tristes e depressivos. Mas quem poderia imaginar o “bonzão” tão sensível? Seria alguém? Sim, era alguém.
Julia, menina bastante sociável e simpática. Mas, incrivelmente por ser tão simpática acabava por parecer antipática aos mais reservados, como Zeca. Mas o Zeca não era o “bonzão”? Sim, entretanto ele era legal e sociável a partir do momento que lhe davam terreno pra isso, ele nunca, mas nunca mesmo, tentaria se comunicar e buscar uma amizade. Mas como ele queria a amizade dela. Não sabia nem como andar perto dela pra não causar uma falsa impressão.
- Aí, aquela garota é maior antipática né? – Dizia um menino incomodado com a sociabilidade de Julia.
- É mesmo, ela é ridícula! – Zeca tentava disfarçar sua admiração e desejo pela amizade dela exagerando nos comentários. Dizia aquelas palavras com uma dor no coração e também com medo de que aquelas mentiras impulsivas chegassem aos ouvidos de Julia.
Toda vez que algum contato estava possivelmente perto de acontecer Zeca relutava. Ele aos poucos foi percebendo que ele era ridículo.
Zeca e Julia são os melhores amigos do mundo! Se amam realmente, amor de irmão. Mas como o ser humano nunca está satisfeito com o que tem, Zeca começa a sentir o mesmo de 1 ano atrás. Quando não conseguia nem ao menos chegar perto dela, que hoje é sua fiel companheira, amiga pra todas as horas. – Que ridículo! – Pensava.
Julia era tão dócil e amável que Zeca não se contentava apenas com sua amizade, queria mais.
- Aí Zeca, você e a Júlia fazem um belo casal hein?
- Pára com isso cara, que ridículo! – Zeca dizia aquilo com uma dor no coração e também com medo pois estava negando o que ele mais tinha certeza na sua vida: Era com ela que ele queria namorar.
Confuso e desnorteado, ele pouco a pouco se afastava da menina. Julia não entendia muito bem e Zeca nunca dizia a verdade.
- Julia, eu te amo – Dizia Zeca pela milésima vez, mas era por um motivo especial. Aniversário de 2 anos de namoro.
- Eu também te amo meu amor. – Julia parecia flutuar.
A mente do ser humano é incrível mesmo não é? Zeca não parava de pensar: “Mas ela é tão minha, é tudo tão fácil” estava entediado por ter conseguido tudo que sempre quis. Já deu pra perceber que Zeca é um insatisfeito nato.
Cinco anos de casamento. Alegria pra todos os lados. Caio, seu filho, brincava com uma bola de futebol e Zeca admirava aquele momento pensando: “Como agüentei chegar até aqui?”
No mesmo dia à noite muitos gritos foram ouvidos até o bater da porta silenciar toda a vizinhança. Zeca havia partido. Ele não sabia se tinha desperdiçado toda sua vida com uma falsa paixão ou se aquilo era realmente parte do plano. Mas quer saber? Ele não estava muito preocupado com a sua ex-mulher dos sonhos, a única coisa que ele não iria se perdoar nós próximos 3 anos, seria ter abandonado seu filho. Mas isso passa.
Julia chora todas as noites ao lado do filho durante 3 anos, não entende como o homem que conquistou seu coração foi embora daquele jeito, tão de repente. O ódio foi inevitavelmente cultivado em seu coração, não queria mais vê-lo. Iria presa mas não deixaria o filho ficar nem um minuto sequer com o pai. Ele a devia uma explicação.
Zeca não sabia o que queria, também chorava todas as noites e entendia as atitudes de Julia. Mas é que ele mesmo não se entendia. Todos esses anos ele apenas pensou nele, não parou nenhum momento pra pensar em Julia, ele apenas a amava, mas não atentava para as suas necessidades e sentimentos. Percebeu que na verdade a Julia o amava muito mais do que ele a amava. Ela ficou com ele todos esses anos aceitando todo seu egoísmo, ela foi quem deixou pra trás todos os seus pensamentos por ele. No que ela deveria estar pensando agora?
A noite chegou, e lá estava Zeca com um violão na mão e um buquê na outra. Aquilo sim era ridículo! Só de pensar que ele mesmo foi quem causou tudo aquilo ele já se odiava, mas Julia era mais importante nesse momento.
- Me desculpe meu amor, eu andei pensando. Não era o que eu queria, o que eu quero é você!
- Ahh! Depois de 3 anos você vem me dizer isso? Você acha que eu e o seu filho somos babacas? Sai daqui agora com esse seu violão ridículo!
- É sério, eu tava lembrando de quando agente se conheceu, vamos voltar a ser o que éramos antes? Eu não sei o que deu em mim, eu fiquei entediado porque consegui tudo que queria muito rápido! – Zeca gritava aos prantos.
- Só pode ser piada! O mundo não gira em torno de você não, sabia? Você acha que pode se “entediar”, ir embora e voltar 3 anos depois dizendo que não era isso que você queria? – Julia bate a janela. Nunca foi tão boa atriz, sonhou com aquele momento todos os dias desde que Zeca partiu. Infelizmente, naquele exato momento, ela é quem estava errada.
Eles não sabiam, mas seus pensamentos estavam sincronizados. Zeca na chuva sentado no meio fio com um violão e flores murchas na mão. Julia sentada na cama olhando o tempo todo pela janela mas sem querer ser percebida por ele. Se fosse fácil acabar com o orgulho, ela já teria descido e o abraçado. Os dois pensavam nos mesmos momentos, o começo, onde tudo é bom e azul. Zeca fica com raiva e diz: “O que você mais quer é que eu volte, por que você não admite?”
Aquilo acabou com o clima do momento, Zeca assinou sua sentença. Julia não falou mais nada, apenas chorou e pensou como é ruim quando alguém advinha seus pensamentos e sentimentos. Antes, era um errado e a outra certa. Agora os dois estão errados. Estão desperdiçando seu amor. Como iriam resolver isso? Simples, Zeca arrombou a porta. Julia fingiu que não gostou mas deixou ele a abraçar, não foi preciso dizer nada. Estava tudo resolvido. A vida é realmente como um ciclo, existem altos e baixos porém tudo sempre volta ao normal.
Dez anos de casamento. Caio já grandinho, porém ainda brincava com uma bola de futebol e Zeca, quer dizer, Julia pensava: “Como agüentei chegar até aqui? Ele me maltratou durante aqueles 3 anos.”
Nem é preciso dizer que a noite muitos gritos foram ouvidos e a porta bateu.
Por Higor Cabral - 3º período