Sônia era uma senhora de pele morena que aparentava 42 anos, vestia jeans apertadinho, mesmo estando acima do peso, cabelos com luzes e blusa decotada com estampa de oncinha. Às sete horas da manhã ela embarca no vagão das mulheres do trem na estação de Olinda.
O trem estava cheio e como sempre havia homens no vagão das mulheres, e além disso, havia um homem sentado. Cansada, Sônia não pode conter seu ímpeto justiceiro ao sentir-se prejudicada por causa do homem que ocupava “seu lugar”, ou, de outras mulheres.
O calor estava insuportável, e ao partir da estação de Anchieta o trem pára e o maquinista avisa:
- Atenção, estamos aguardando a liberação do sinal.
Após dez minutos, o maquinista repete a mensagem. O trem ficou parado por cerca de vinte minutos. Algo estava muito errado os passageiros começaram a ficar irritados, principalmente Sônia que também estava atrasada.
- Era só o que faltava! Além do trem não andar, ainda tenho que aturar homem no vagão das mulheres, e ainda sentado! – reclamou em bom som Sônia. Jorge - jovem, magro, moreno e usando uniforme do trabalho - ouvia funk em alto volume, e ignorou a provocação de Sônia.
O trem volta a andar. Chegando na estação de Ricardo de Albuquerque, Sônia avista o guarda da Supervia e grita por ele, que imediatamente aparece.
- Olha só, ta um calor horrível e o trem ficou parado quase meia hora esperando a liberação do sinal, eu não sei que sinal é esse! E ainda por cima, tem esse cara aqui no sentado e no vagão das mulheres! É um absurdo! E você não vai fazer nada?! Vai ficar ai me olhando?!
O guarda olhou para Jorge que fingia estar dormindo. Neste momento as porta se fecham e o trem segue viagem. A confusão foi iniciada.
As outras mulheres começaram a falar e apoiar Sônia, que gritava dizendo que Jorge sairia dali por bem ou por mal.
O guarda de forma tranqüila foi conversar com o rapaz, que se recusou a levanta, alegando que entrou no vagão antes do horário exclusivo das mulheres. O trem estava chegando em Deodoro e Sônia continuava o barraco, agora dizendo que iria chamar a polícia.
Quando o trem parou em Deodoro, Jorge lançou um olhar de raiva para Sônia, levantou-se e saiu. Sônia rapidamente ao sentar-se e é aplaudida por todas as outras mulheres.
A próxima estação era Madureira, e quando o trem parou para o embarque e desembarque aconteceu algo terrível. Do nada, uma mão entra pela janela e acerta o nariz de Sônia, que fica um pouco tonta. As mulheres começam a gritar.
- É ele! Isso é um absurdo! Guarda! Guarda!
O sinal anunciou o fechamento das portas e nenhum guarda apareceu. Sônia levantou em um salto, quase ficou presa na porta, com sangue escorrendo pelo nariz, saiu correndo atrás de Jorge. Mas, ele foi mais rápido e embarcou no trem da outra plataforma, ela não conseguiu alcançá-lo.
Os dois trens partiram e Sônia ficou lá, parada na plataforma, sangrando e com raiva. Gritava por um guarda.
Caroline Dutra & Diogo Monteiro – 3º Período